
Hoje tive um dia especial. Ganhei a manhã com minha mamãe em casa. Comi um pratão de sopa, tomei suco de soja de abacaxi, uma delícia, por sinal, e fui tirar minha sonequinha habitual. Coisa de meia horinha. Aí, acordei com uma voz doce, quase sussurrando, pertinho do meu berço. Levantei a cabeça e reconheci aquele perfume.
Ela me encanta desde os primeiros dias de vida. É daquelas pessoas gostosas de ficar olhando. Bonita por fora, sorrisão aberto, pureza de alma por dentro. Olhar suave, coração calmo, transmite paz em poucos segundos. Gostei do que vi. E torci pra ela me pegar logo no colo. Aí retribuí, com minha melhor cara de feliz. E fui sentindo uma felicidade cada vez maior. Mamãe me explicou depois, o que eu, com o olhar e o coração, já confirmava.
Ela é daquelas pessoas discretas, capazes de engolirem grandes sapos, sem perder a postura e a razão. Capaz de atravessar a cidade, enfrentar trânsito, condução lotada, calor e bronca de chefe, só pra matar a saudades um pouquinho. Numa simplicidade nata, diz, poucas, mas sábias palavras, bem pausadas, devagarinho, coisa de tocar lá no fundinho, mas que a gente entende rápido. Num carinho infinito, ficou um cadinho de tempo, suficiente pra eu saber que tenho amor semeado pruma vida toda.
Não tenho o pensamento lógico de um adulto, nem a pressa do mundo deles, mas percebi um brilho no olhão verde da vovó loira, que em plena segunda de trabalho, deixou sua vida agitada de lado pra vir dar atenção à minha pequena vida. Percebi a mensagem. Essa noite, puxões de orelhas vão rolar, pra que nunca se deixe de cultivar a plantinha, pra que eu sempre sinta esse perfume suave, essa calmaria gostosa. Afinal, quero a voz doce, por perto, sempre perto de mim.